quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A Boneca e a Rosa Branca


Corri ao mercado para comprar uns presentinhos, que eu não havia conseguido comprar antes. Quando eu vi todas aquelas pessoas no mercado, comecei a reclamar comigo mesma: 'Isto vai demorar a vida toda, e eu ainda tenho tantas coisas para fazer, outros lugares para ir. Como eu gostaria de poder apenas me deitar, dormir e só acordar após tudo isso'.

Sem notar, eu fui andando até a seção de brinquedos, e lá eu comecei a bisbilhotar os preços, imaginando se as crianças realmente brincam com esses brinquedos tão caros.

Enquanto eu olhava a seção de brinquedos, eu notei um garoto de mais ou menos 5 anos pressionado uma boneca contra o peito. Ele acarinhava o cabelo da boneca e olhava tão
triste, e fiquei tentando imaginar para quem seria aquela boneca que ele tanto apertava.

O menino virou-se para uma senhora próximo à ele e disse: 'Vovó, você tem certeza que eu não tenho dinheiro suficiente para comprar esta boneca?'

A senhora respondeu: 'Você sabe que o seu dinheiro não é suficiente, meu querido!'

E ela perguntou ao menino, se ele poderia ficar ali olhando os brinquedos por 5 minutos, enquanto ela iria olhar outra coisa. O pequeno menino estava segurando a boneca em suas mãos.

Finalmente eu comecei a andar em direção ao garoto e perguntei para quem ele queria dar aquela boneca.

E ele respondeu:
"Esta é a boneca que a minha irmã mais adorava, e queria muito ganhar. Ela estava tão certa que o Papai daria esta boneca para ela este ano. "

Eu disse:
"Não fique tão preocupado, eu acho que ele irá dar a boneca para sua irmã."

Mas ele triste me disse:
"Não, o Papai não poderá levar a boneca onde ela está agora. Eu tenho que dar esta boneca pra minha mãe, assim ela poderá dar a boneca à minha irmã, quando ela for lá."

Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ele falava:
"Minha irmã teve que ir embora para sempre. O papai me disse que a mamãe também irá embora para perto dela em breve. Então eu pensei que a mamãe poderia levar a boneca
com ela e entregar a minha irmã.".

Meu coração parou de bater.

Aquele garotinho olhou para mim e me disse:
"Eu disse ao papai para dizer a mamãe não ir ainda. Eu pedi à ele que esperasse até eu voltar do
mercado."

Depois ele me mostrou uma foto muito bonita dele rindo, e me disse:
"Eu também quero que a mamãe leve esta foto, assim ela também não se esquecerá de
mim. Eu amo a minha mãe e gostaria que ela não tivesse que partir agora, mas meu pai disse que ela tem que ir para ficar com a minha irmãzinha."

Ai ele ficou olhando para a boneca com os olhos tristes e muito quietinho. Eu rapidamente procurei minha carteira e peguei algumas notas e disse para o garoto:
"E se nós contássemos novamente o seu dinheiro, só para termos certeza de que você tem o dinheiro para comprar a boneca?

Coloquei as minhas notas junto ao dinheiro dele, sem que ele percebesse, e começamos a contar o dinheiro. Depois que contamos, o dinheiro iria dar para comprar a boneca e ainda sobraria um pouco.

E o garotinho disse:
"Obrigado, Senhor, por atender o meu pedido e me dar o dinheiro suficiente para comprar a boneca"

Aí ele olhou para mim e disse:
"Ontem antes de dormir eu pedi à Deus que fizesse com que eu tivesse dinheiro
suficiente para comprar a boneca, assim a mamãe poderia levar a boneca. Ele me ouviu ...e eu também queria um pouco mais de dinheiro para comprar uma rosa branca para minha mãe, mas eu não ousaria pedir mais nada à Deus. E Ele me deu dinheiro suficiente para comprar a boneca e a rosa branca. Você sabe, a minha mãe adora rosas brancas. "

Uns minutos depois, a senhora voltou e eu fui embora sem ser notada. Terminei minhas
compras num estado totalmente diferente do que havia começado. Entretanto não conseguia tirar aquele garotinho do meu pensamento. Então lembrei-me de uma notícia no jornal local de dois dias atrás, quando foi mencionado que um homem bêbado numa caminhonete, bateu em
outro carro, e que no carro estavam uma jovem senhora e uma menininha. A criança havia falecido na mesma hora e a mãe estava em estado grave na UTI, e que a família havia decidido desligar as máquinas, uma vez ;que a jovem não sairia do estado de coma.

E pensei, será que seria a família daquele garotinho?
Dois dias após meu encontro com o garotinho, eu li no jornal que a jovem senhora havia falecido. Eu não pude me conter e sai para comprar rosas brancas, fui ao velório daquela jovem.
Ela estava segurando uma linda rosa branca em suas mãos, junto com a foto do garotinho e com a boneca em seu peito.

Eu deixei o local chorando, sentindo que a minha vida havia mudado para sempre.

O amor daquele garotinho por sua mãe e irmã continua gravado em minha memória até hoje.

É difícil de acreditar e imaginar que numa fração de segundos, um bêbado tenha tirado tudo
daquele pequeno garotinho.

Um comentário:

Daniel Savio disse...

Infelizmente, basta estar vivo para morrer, mas também bastar estar vivo para amar...

Fique com Deus, menina Cintia Akemi.
Um abraço.