sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Afinidade

A afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois.
A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos.
É o mais independente também.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi.

Ter afinidade é muito raro.

Mas, quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas.
Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com!
Não é sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.

Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.
Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.

É mais calar do que falar, ou, quando é falar, jamais explicar: apenas afirmar!
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.

É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas quanto das impossibilidades.
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram. Foram apenas oportunidades dadas (e tiradas) pela vida para que a maturação comum pudesse se dar.


E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais a expressão do outro
sob a forma ampliada do eu individual aprimorado.

(Arthur da Távola)

Um comentário:

Daniel Savio disse...

Há casos de afinidade sim, mas nem todos os seres humanos são a fim de se colocar num lugar do próximo...

Fique com Deus, menina Akemi.
Um abraço.