sexta-feira, 12 de junho de 2009

Dia dos e-namorados

Namorar perdeu sentido ou ficou sem sentido namorar?

Hoje a moda é “ficar” e, até onde sei, ficar com alguém é diferente de permanecer, estar junto. No mundo da rapidez e da velocidade muitos de nós decidimos renegar o perene. Trocamos a naturalidade pela imposição do modismo, a eternidade do momento pela fugacidade da hora e dos sentidos.

No mundo virtual a paixão ganhou grafia própria: símbolos e frases cifradas conformam tribos distintas e consagram sentimentos e frustrações diversos. Na ponta dos dedos, ao invés do toque macio da pele do outro, o teclado de plástico é quem envia os sinais de afeto. Ao invés do olho-no-olho, usamos agora a WebCam...

A internet surgiu para encurtar distâncias, mas no amor o que se vê é o contrário: os corpos se afastam e em seu lugar vigora a aproximação virtual. Estamos mais próximos de um distante morador da Nova Zelândia que de vizinhos e familiares...

Muitos de nós trocamos o enamorar pelo e-namorado, o parceiro de quem você pensa que tudo sabe, porém mal ouve e quase não vê de corpo inteiro. Criamos um mundo sem cheiro, sem tato, sem vibrações. Colocamos uma máquina entre nós e quem elegemos que devemos amar. O espelho de Narciso virou tela de computador e, ao lado de dúvidas, alimentamos nossas taras e fobias sob a luz tênue do vídeo.

Namorar perdeu sentido ou não faz mais sentido namorar? O amor perdeu vez? O que pusemos em seu lugar?

Ao invés do grito do carteiro sentimos agora um frio no estômago a cada vez que abrimos o Outlook. Muitos de nossos endereços e pontos de encontro mudaram-se para comunidades do Orkut, onde muitos nos escondemos atrás da identidade de quem gostaríamos de ser, mas não somos. Namorar perdeu sentido? Então por que insistimos em amar?

Na busca do afeto nos perdemos muitas vezes nos desvãos da alma. Somos o que sentimos, mas o que temos feito para sentir sensações boas? Somos o que amamos, mas como temos amado nos últimos tempos? Pode amar a outrem quem só consegue se amar? Pode sentir o prazer da doação quem sabe apenas acumular? Sabe sentir o prazer do encontro quem não se encontra e nem empreende qualquer busca?

Esqueçamos as certezas, vivemos num mundo de desencontros. Precisamos redescobrir a importância de amar para poder curtir a paixão pelo tempo que ela perdurar.
(Alexandre Pelegi)

Um comentário:

Eduardo disse...

LER E SE ENCONTRAR... ESSA É A MÁGICA

PERFEITO