Por Aldo Novak
Você já pensou nisso? Mesmo? Quanto mais peças há em um aparelho, mais chances de quebrar. Quanto mais equipamentos em uma empresa, maiores os custos de manutenção. Quanto mais tralhas em casa, mais tempo, dinheiro e foco perdidos quando enguiçam.
Parece bastante elementar que tudo o que você possui e está quebrado, não quebraria se não existisse. Se você tem dez computadores, tem dez vezes mais chances de ter um computador quebrado, do que alguém que tem somente um. Tudo o que quebra em sua empresa não quebraria se não estivesse lá dentro. Tudo o que está quebrado em sua vida não quebraria se não existisse nela.
A partir dessa verdade inelutável chegamos a duas conclusões bastante interessantes: a primeira é que para reduzir o tempo, o dinheiro e as lágrimas de algo que quebra, basta ter menos coisas, pois tudo pode quebrar. Se você não tiver absolutamente nada, então nada se quebrará. Mas cuidado! Não querer ter algo que quebra somente porque pode quebrar é o caminho certo para a infelicidade, tristeza e solidão. Se você não tem nada que possa quebrar, não tem nada para defender e proteger, nada pelo que lutar, se esforçar, melhorar, realizar e deixar um legado, quando você partir. A vida é interessante exatamente porque temos que defender ou colar, aquilo que possa se quebrar. Uma empresa em que nada quebra, não está crescendo.
A segunda conclusão elementar portanto, é que temos que ter coisas que quebrem em nossas vidas - e poderão se quebrar dado o devido tempo. A partir dessas duas conclusões aparentemente opostas ("quanto menos coisas em nossas vidas, menos coisas se quebrarão" mas "temos que ter coisas que se quebrem para nos sentirmos vivos e parte do Universo"), você e eu concluímos que o ideal é termos apenas aquilo que é realmente importante para nós, nossa vida e nossa empresa. Os japoneses chamam isso de "seiri" que significa algo como "somente 1", ou "somente o mais importante".
Muitas coisas estão quebrando? Pergunte-se, com atenção, se você precisa mesmo delas. Doe o que tiver em excesso e abra espaço para novas coisas, mais significativas. O que tem mais qualidade, quebra menos. A maioria das coisas que quebram em uma casa são tralhas. Poucas são realmente importantes. Na empresa, não é melhor reduzir o número de certos equipamentos, móveis ou peças de decoração? Não é melhor reduzir o seu número de relacionamentos problemáticos e ficar com os que permitam aumentar a qualidade de vida? Focar nos que são realmente importantes?
Se tudo quebra e não podemos viver sem coisas que quebrem, depois de nos livrarmos do excesso sobra mais tempo, atenção e recursos para cuidar e colar aquilo que quebrou - seja uma máquina, um relacionamento, um sonho, que tenham realmente importância para nós.
Quase tudo pode ter conserto mesmo quando sobram marcas, cicatrizes; lembre que são as cicatrizes que mostram a experiência e o valor de um guerreiro em relação a outro. Onde não há cicatrizes, não há história.
Houve um natal no qual ganhei um presente lindo que quebrou. Por dois dias fiquei muito chateado com isso. Mas, então, pensei: "E se ela não tivesse dado aquele presente?" E entendi que foi muito bom ter recebido dela o presente, mesmo que agora quebrado, pois descobri o cuidado e carinho que ela dedicou ao procurar algo que fosse significativo para mim. Ela deu seu tempo e energia para dizer, de modo muito especial, que eu tive alguma importância em sua vida. Quando pensei nisso vi que o presente quebrado se tornou ainda mais valioso do que já era.
Agora, colado (e com a parte quebrada perceptível como uma cicatriz), o mesmo presente é um lembrete de que quebrar não é o problema; o problema é quebrar algo que você nem deveria ter. Porque, embora o que não exista não possa quebrar, somente o que pode quebrar realmente existe. E quanto mais tempo você se dedica a colar aquilo que, apesar de importante, quebrou, mais emoção e sentimento de integração aquilo dá para sua existência, sua vida e sua história.
Seja feliz sempre!
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