domingo, 7 de dezembro de 2008

Um Sorriso

"Achei este texto perdido entre minhas anotações BEM ANTIGAS. Desde primeira vez que li (isso em 97,98 eu acho) me apaixonei e agora espero que seja uma ótima leitura para quem visitar aqui."

Mas o que Lúcia Helena estava fazendo no trem? Foi o que perguntei:
- O que você vai fazer em São Paulo?
- Vou ficar uns tempos na casa da tia Olívia.
E sem esperar que eu perguntasse por que, começou a me explicar que andava muito nervosa, e que o médico tinha recomendado que saísse um pouco.
- E a festa de noivado?
- Acho que não vai ter mais festa ...
Com medo perguntei:
- E ... o Mário Antônio?
- A gente resolveu dar um tempo.
Meu coração bateu mais forte. Eu não sabia o que fazer com ela ali do meu lado. Me lembrei que antigamente era o maior potoqueiro do mundo. Não tive dúvida: comecei a contar o que ia fazer da vida. Nem sei se ia fazer isso mesmo, mas ia falando o que vinha na cabeça. E Lúcia Helena só olhando pra mim. De vez em quando ela ria. Eu via que ela estava contente mesmo, que parecia feliz em estar naquele trem comigo.
O Sol entrava pela janela, e o cabelo de Lúcia Helena brilhava que nem ouro. A pelo do rosto dela era tão macia que dava uma vontade doida de beijar. Linda de morrer. Uma coisa! Aí me deu uma vontade doida de pegar na mão dela. Mas eu não tinha coragem. E falava, só contando papo. Beto, larga a mão de ser trouxa, eu disse pra mim mesmo. Até que o trem deu um solavanco, meu braço encostou no dela. Lúcia Helena estremeceu, mas não tirou o braço. Agora, pensei.
Faltava coragem. Agora, Beto, vamos. E sem pensar mais, agarrei a mão dela. Lúcia Helena estremeceu de novo, mas não tirou a mão. E riu pra mim, com aquele sorriso maravilhoso que só ela sabia dar. Apertei a mão de Lúcia Helena com força, como se tivesse medo que fosse perdê-la outra vez. E disse uma coisa que fazia tempo que estava na minha garganta:
- Te amo.
Ela sorriu de novo e pôs a cabeça no meu ombro. Então, eu comecei a me sentir o homem mais feliz do mundo.

(Álvaro Cardoso Gomes – A hora do amor – São Paulo, FTD, 1986, pág. 127-8)

Um comentário:

Romário Gonçalves disse...

Era justamente o que procurava...

Você me fez viajar por entre as páginas de minha trajetória onde em 2002 li este Texto e de lá para cá, minha memória tem conservado. Moça, não sei se você lerá este comentário mas, deixo aqui meu sincero agradecimento por postar. Há tempo procuro, só agora encontrei. Te agradeço imensamente. Não me recordava o Autor, somente o apaixonante enredo. Desejo tudo de bom pra ti.